Prof. Sérgio Costa

Explorando as Profundezas da Mente: Realidade Virtual e Psicanálise

Descubra como a fusão da realidade virtual e a psicanálise abre novos horizontes na compreensão da mente humana.

Vivemos num mundo das transformações socioculturais, políticas, econômicas, morais e científicas ocorridas na sociedade e estamos presenciando uma mutação histórica nos modos de ser e estar no mundo. Transformações que vêm se engendrando há algumas décadas e que, “não por acaso” (SIBILIA, 2014), culminaram no desenvolvimento das novas tecnologias que refletem o modo de ser do indivíduo e ao mesmo tempo, provocam mais mudanças. A subjetividade do homem contemporâneo é influenciada por essa nova realidade.

O conceito de intimidade, de espaço público e privado mudou. Antes, protegidos pelo entre paredes de nosso quarto, líamos, escrevíamos nossos diários, nossos poemas e os trancávamos no espaço mais protegido do olhar alheio, como uma preciosidade que só a nós pertencia. O espaço privado era bem diferenciado do espaço público.

Hoje escrevemos os diários em blogs, expomos nossa intimidade no Facebook, exibimos imagens das situações mais banais no Instagram, montamos um espetáculo de nós mesmos e buscamos o olhar do outro e sua aprovação por meio de curtidas. A intimidade tem se deixado infiltrar pelas redes.

Uma vitrine ou janela para evidenciar as mudanças do modus vivendi contemporâneo seria o mundo virtual, propiciado pelas novas tecnologias digitais e pela internet. Contemporaneidade aqui se refere à pós-modernidade ou modernidade tardia, ou hipermodernidade, termo preferido por Lash (1983) para se referir às últimas décadas do século XX e ao século XXI.

Estamos diante de uma tela de computador o tempo todo, em comunicação simultânea com outras pessoas através dos smartphones, em redes digitais que se infiltraram pelos muros e que mudaram as referências espaciais para sempre. O espaço se amplificou. Os celulares se incorporaram às nossas mãos e ao nosso cotidiano. Temos necessidade de nos mantermos conectados e ligados. Cada vez mais é preciso se tornar visível e estar on-line.

As pessoas postam em redes sociais o que consideram o melhor de si, assim como são capazes de expressar, em perfis falsos ou não, o lado mais preconceituoso e agressivo de seu ser. E hoje também é cada vez mais comum a exposição pública da morte nas redes sociais.

Aos poucos, o véu que escondia a dor da perda e o luto passou a ser falado, compartilhado e exposto em fotografias e memoriais on-line. O sofrimento também é curtido através da internet.

O ciberespaço propicia que pessoas anônimas postem e compartilhem seus pensamentos, suas ideias, músicas, dotes artísticos, vídeos que se tornam virais, que autores publiquem seus livros, o que seria impossível ou muito difícil há alguns anos atrás e que desconhecidos tenham visibilidade e se tornem celebridades em um curto espaço de tempo, revelando talentos.

Os laços sociais foram marcados e revolucionados pelas novas tecnologias. Sem querer emitir juízos de valor, mas apenas constatando, através da leitura de trabalhos a respeito (YOUNG, 2011), podemos dizer que a internet é um meio estimulante, psicoativo, que opera com um alto grau de imprevisibilidade e novidade.

Protegidos pelo anonimato ou pela percepção de ser anônimo, os usuários se arriscam mais e ousam procurar e vivenciar fantasias on-line, a que não se permitiriam presencialmente, fantasias que são bem aceitas no ciberespaço.

As pessoas se sentem mais desinibidas e são capazes de experimentar situações em que não se arriscariam na vida real. Há também menor percepção de responsabilidade devido a essa sensação de anonimato e privacidade.

Existe também um estado de imersão e dissociação de consciência, que envolve sensações variadas como a perda da noção de tempo, esquecimento de frações de tempo, estar num estado de consciência alterado semelhante a um transe, encarnar, ou melhor, vivenciar uma outra persona diferente do seu Eu, sentir uma linha tênue que separa uma realidade virtual de uma real.

A internet cria um espaço intermediário entre a realidade (do outro lado do computador existe uma pessoa real) e a imaginação (pessoa que eu crio e idealizo conforme meus desejos).

Na internet acontece uma ausência de adiamento de gratificações, o que a torna uma experiência quase mágica de ter um pensamento, um desejo, uma curiosidade e simplesmente dar um clique e ver aquilo transformado em realidade.

A possibilidade de instantaneamente acessar qualquer coisa e obter gratificações para impulsos sexuais, jogos, curiosidades intelectuais, de comunicação ou de consumo torna a internet irresistível.

O limiar a ser atravessado entre o impulso e o desejo até a ação (o que é visto, baixado, jogado ou comprado on-line) é muito reduzido, o tempo entre escolher e clicar é muito curto e a gratificação é imediata.

A necessidade de esperar e/ou modular nosso desejo está ausente quando usamos a net. Aí reside um de seus maiores perigos, o que pode transformar o seu uso em abusivo ou viciante. Hoje já se fala em dependência de internet como uma entidade clínica a ser abordada de modo semelhante a outros tipos de dependência (GREENFIELD, 2011).

O ciberespaço se presta também como enfrentamento de situações de medo e inibições para pessoas tímidas e adolescentes se arriscarem através dela. Afinal aqui se pode errar e ter outra chance. E caso haja algum aborrecimento inesperado, é só deletar o outro ou desligar o computador. Ela nos dá uma sensação (imaginária) de estar no controle da situação. Serve também como evasão, escape das vidas rotineiras e fuga de sentimentos de angústia e tristeza.

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