Prof. Sérgio Costa

Adultos Inseguros: A Marca do Néscio

A Relação do Néscio para a Formação de um Adulto Inseguro na Visão da Psicanálise

Na psicanálise, a formação da personalidade adulta está diretamente ligada às primeiras experiências emocionais da infância, principalmente às relações com as figuras parentais e cuidadoras. O termo “néscio”, que se refere a alguém ignorante ou emocionalmente despreparado, pode ser entendido aqui como o adulto que não reconhece as necessidades psíquicas da criança, sendo incapaz de lidar com suas demandas emocionais de forma adequada.

Essa postura, marcada pela negligência afetiva, contradição e comunicação incoerente, tem efeitos profundos na formação de um adulto inseguro, dificultando seu desenvolvimento emocional e suas relações na vida adulta.

🧠 A Criança Como Sujeito do Desejo

Para a psicanálise — como reconhecido pela International Psychoanalytical Association (IPA) — a criança é um sujeito de desejo, que depende do olhar e reconhecimento do outro, principalmente do cuidador primário, para estruturar sua identidade. Quando esse outro é um néscio, emocionalmente inábil ou indiferente, a criança cresce sem validação emocional. A falta de reconhecimento e respostas coerentes gera sentimentos de desamparo, medo e incerteza.

O olhar do outro é essencial para a constituição do ego. Quando ausente, confuso ou hostil, deixa a criança sem referência de valor sobre si e sobre o mundo. Isso compromete a formação de uma base emocional estável, o que mais tarde aparece como insegurança e dificuldade de confiar em si.

⚖️ A Formação do Superego e os Efeitos do Néscio

O superego, instância psíquica que regula a moral e os limites internos, se forma por meio da identificação com as figuras parentais. Quando o adulto de referência é um néscio — permissivo demais, incoerente ou autoritário sem lógica — a criança não desenvolve um superego consistente. Como consequência, na vida adulta, isso se manifesta em dificuldade para estabelecer limites internos, sentimento de culpa sem motivo claro ou necessidade excessiva de aprovação dos outros.

Sem referências firmes e coerentes, o sujeito se torna vulnerável às expectativas externas e incapaz de sustentar suas próprias escolhas.

🗣️ Comunicação Contraditória e Suas Consequências

O néscio tende a emitir mensagens ambíguas: elogia e humilha na mesma frase, promete e não cumpre, diz amar, mas rejeita. Essa comunicação contraditória desorganiza a capacidade da criança de interpretar emoções e compreender a lógica das relações humanas. Como consequência, o adulto que cresce nesse ambiente vive em dúvida permanente sobre seus sentimentos, atitudes e valor.

O psicanalista Donald Winnicott destacava a importância de um “ambiente suficientemente bom” para o desenvolvimento emocional saudável. O néscio representa justamente o oposto: um ambiente emocionalmente imprevisível, onde a criança não sabe se será acolhida ou rejeitada. Essa falta de previsibilidade impede a construção de segurança emocional.

A UNESCO também reforça, em sua publicação Evaluación de Proyectos de Desarrollo Educativo Local, que ambientes seguros, afetivos e organizados são fundamentais não só para o desenvolvimento educacional, mas também para a saúde emocional e social de crianças e adolescentes.

Inclusive, há um artigo importante e relacionado com essa temática:
O artigo completo intitulado “Observación del psiquismo de un colectivo en la construcción de una comunidad de aprendizaje”, que aborda o projeto realizado nas cidades de Caparaó e Alto Caparaó, em Minas Gerais, está disponível nesse livro publicado pelo IIPE-UNESCO.

👉 Você pode acessar o livro completo em PDF pelo link oficial da UNESCO:
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000144341

Para localizar o artigo específico (páginas 164 a 175), use a função de busca do leitor de PDF, digitando o título ou palavras-chave relacionadas.

💔 Marcas Narcísicas e Insegurança Crônica

A psicanálise compreende que falhas nessas primeiras relações deixam marcas profundas no narcisismo do sujeito. O adulto inseguro, formado pela convivência com o néscio, carrega uma ferida narcísica: sente-se invisível, insuficiente ou inadequado. Ao internalizar a rejeição e incoerência do outro, ele projeta isso no mundo, esperando rejeição ou desvalorização constante.

Isso se manifesta em atitudes defensivas, dificuldade de manter vínculos saudáveis, necessidade excessiva de validação e medo inconsciente de reviver o abandono emocional vivido na infância.

🛠️ Conclusão: A Psicanálise Como Caminho de Reparação

Na visão psicanalítica, a convivência com o néscio na infância contribui de forma decisiva para a formação de um adulto inseguro. Isso acontece porque priva a criança de reconhecimento, consistência emocional e segurança psíquica, essenciais para o desenvolvimento de uma identidade estável.

Superar essas marcas envolve, muitas vezes, um processo de análise, onde é possível resgatar as origens dessas inseguranças e reconstruir novas referências internas. Organizações como a American Psychological Association (APA) e a IPA reconhecem a importância desse cuidado emocional, destacando o papel da psicoterapia na reestruturação emocional e na formação da autoconfiança.

👉 Para complementar essa reflexão, acesse o livro e o artigo completo neste link:
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000144341

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